Presença da Força Nacional não inibe assassinatos No Sul de Lábrea AM
Eliena Monteiro - jornalismo@portalamazonia.com
MANAUS – Conflitos por terras no Sul do
Amazonas espalham o terror entre ruralistas. A morte da extrativista
Dinhana Nink, de 27 anos, no último sábado (31) em Rondônia reacende
questionamentos sobre a segurança naquela região. Após ter a casa
incendiada no município de Lábrea (a 702 quilômetros de Manaus), Dinhana
foi assassinada a tiros na frente do filho, de apenas seis anos de
idade. O crime ocorreu no distrito de Nova Califórnia (a 200 quilômetros
de Porto Velho).
Segundo a coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT)) do
Amazonas, Francisneide Lourenço, os pistoleiros dominam o interior do
Estado. “Se o pessoal quer matar no sul de Lábrea, eles matam mesmo”,
denunciou.
Francisneide afirmou que nem mesmo a presença da Força Nacional inibe
a ação dos grileiros em Lábrea. De acordo com ela, atualmente, os
policiais protegem a ruralista Nilcelene, outra vítima de ameaças. “Ela
já foi espancada. Eles [os grileiros] continuam ameaçando. Como forma de
aviso, eles mataram a tiros o cachorro dela, em fevereio deste ano”,
contou.
Segundo a coordenadora, pela Lei, quatro policiais da Força Nacional
têm a função de apenas escoltar Nilcilene. “Os grileiros estão até
fazendo abaixo-assinado para tirar ela de Lábrea”, disse.
Ameaças
Dinhana Nink morava em uma área que faz divisa entre um assentamento
do Incra e uma unidade da Pastoral da Terra. Francisneide contou ao
portalamazonia.com que o CTP tinha conhecimento das ameaças sofridas
pela extrativista. “Após as denúncias, ela continuou recebendo ameaças.
Diziam que três pessoas da área morreriam e uma delas seria a Dinhana”,
disse.
Segundo Francisneide, sob orientação da Força Nacional, Dinhana
registrou o último Boletim de Ocorrência (BO) no dia 29 de novembro de
2011. “No BO, ela relata que estava sendo ameaçada. Uma jornalista de um
jornal nacional entrevistou a Dinhana, mas os editores decidiram não
publicar a reportagem para não colocar a vida dela em risco”, disse.
Também em Lábrea, dois homens, entre eles um pastor, estão protegidos
devido a ameaças. No sul do Amazonas, outras pessoas foram vítimas de
pistoleiros. Entres eles estão Dinho, Nardélio, o casal José Cláudio e
Maria. Os dois últimos também morreram em Rondônia.
Para Francisneide, algumas pessoas migram do Amazonas para Rondônia
ou Acre em busca de segurança. “Para evitar isso, seria necessário que o
Estado do Amazonas montasse uma estrutura na região. Se o Estado não
quer se responsabilizar pela área que, pelo menos, abra mão do
território para o Acre e Rondônia”, reclamou.
Segurança
O município de Lábrea não possui policiamento. O posto policial mais
próximo da cidade localiza-se em Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus).
“A gente vê a necessidade de se fazer justiça, pela própria Polícia do
Amazonas. A Polícia Federal também deveria estar presente naquela área”,
disse Francisneide.
O aumento de mortes mostra que a sensação de impunidade impera na
área. “Às vezes, a gente se sente desanimado, de mãos atadas. Vemos a
necessidade da intervenção do Estado. Temos mais apoio do Governo
Federal do que do Amazonas”, ressaltou.
Extração de madeira
No sul do Amazonas, a extração de madeira ocorre de maneira fácil e
ilegal. “Em um relatório do Banco Mundial, um economista compara a
extração de madeira com o tráfico de drogas. Assim como no narcotráfico,
esses madeireiros desviam dinheiro para a corrupção. Eles não pagam
impostos, eles pagam policiais para não serem impedidos”, denunciou a
coordenadora da Comissão da Pastoral da Terra.
Em nota, o Incra disse que manifesta apoio aos assentados e
trabalhadores rurais e repudia qualquer crime ligado às questões
agrárias.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública e
com a assessoria de comunicação do Estado, mas não obteve sucesso.