quinta-feira, 5 de abril de 2012

Presença da Força Nacional não inibe assassinatos No Sul de Lábrea AM

Eliena Monteiro - jornalismo@portalamazonia.com

MANAUS – Conflitos por terras no Sul do Amazonas espalham o terror entre ruralistas. A morte da extrativista Dinhana Nink, de 27 anos, no último sábado (31) em Rondônia reacende questionamentos sobre a segurança naquela região. Após ter a casa incendiada no município de Lábrea (a 702 quilômetros de Manaus), Dinhana foi assassinada a tiros na frente do filho, de apenas seis anos de idade. O crime ocorreu no distrito de Nova Califórnia (a 200 quilômetros de Porto Velho).
Segundo a coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT)) do Amazonas, Francisneide Lourenço, os pistoleiros dominam o interior do Estado. “Se o pessoal quer matar no sul de Lábrea, eles matam mesmo”, denunciou.
Francisneide afirmou que nem mesmo a presença da Força Nacional inibe a ação dos grileiros em Lábrea. De acordo com ela, atualmente, os policiais protegem a ruralista Nilcelene, outra vítima de ameaças. “Ela já foi espancada. Eles [os grileiros] continuam ameaçando. Como forma de aviso, eles mataram a tiros o cachorro dela, em fevereio deste ano”, contou.
Segundo a coordenadora, pela Lei, quatro policiais da Força Nacional têm a função de apenas escoltar Nilcilene. “Os grileiros estão até fazendo abaixo-assinado para tirar ela de Lábrea”, disse.
Ameaças
Dinhana Nink morava em uma área que faz divisa entre um assentamento do Incra e uma unidade da Pastoral da Terra. Francisneide contou ao portalamazonia.com que o CTP tinha conhecimento das ameaças sofridas pela extrativista. “Após as denúncias, ela continuou recebendo ameaças. Diziam que três pessoas da área morreriam e uma delas seria a Dinhana”, disse.
Segundo Francisneide, sob orientação da Força Nacional, Dinhana registrou o último Boletim de Ocorrência (BO) no dia 29 de novembro de 2011. “No BO, ela relata que estava sendo ameaçada. Uma jornalista de um jornal nacional entrevistou a Dinhana, mas os editores decidiram não publicar a reportagem para não colocar a vida dela em risco”, disse.
Também em Lábrea, dois homens, entre eles um pastor, estão protegidos devido a ameaças. No sul do Amazonas, outras pessoas foram vítimas de pistoleiros. Entres eles estão Dinho, Nardélio, o casal José Cláudio e Maria. Os dois últimos também morreram em Rondônia.
Para Francisneide, algumas pessoas migram do Amazonas para Rondônia ou Acre em busca de segurança. “Para evitar isso, seria necessário que o Estado do Amazonas montasse uma estrutura na região. Se o Estado não quer se responsabilizar pela área que, pelo menos, abra mão do território para o Acre e Rondônia”, reclamou.
Segurança
O município de Lábrea não possui policiamento. O posto policial mais próximo da cidade localiza-se em Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus). “A gente vê a necessidade de se fazer justiça, pela própria Polícia do Amazonas. A Polícia Federal também deveria estar presente naquela área”, disse Francisneide.
O aumento de mortes mostra que a sensação de impunidade impera na área. “Às vezes, a gente se sente desanimado, de mãos atadas. Vemos a necessidade da intervenção do Estado. Temos mais apoio do Governo Federal do que do Amazonas”, ressaltou.
Extração de madeira
No sul do Amazonas, a extração de madeira ocorre de maneira fácil e ilegal. “Em um relatório do Banco Mundial, um economista compara a extração de madeira com o tráfico de drogas. Assim como no narcotráfico, esses madeireiros desviam dinheiro para a corrupção. Eles não pagam impostos, eles pagam policiais para não serem impedidos”, denunciou a coordenadora da Comissão da Pastoral da Terra.
Em nota, o Incra disse que  manifesta apoio aos assentados e trabalhadores rurais e repudia qualquer crime ligado às questões agrárias.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública e com a assessoria de comunicação do Estado, mas não obteve sucesso.